
TDAH e Gravidez: Fatores de Risco e Prevenção
Descubra como os sintomas de TDAH podem mudar da pré-escola para a idade escolar. Um estudo importante revela a importância de acompanhar a criança e como os relatos de pais e professores podem ser diferentes.
TDAH: Uma Condição Complexa com Múltiplas Influências
O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta crianças, adolescentes e adultos. Ele é caracterizado por dificuldades de atenção, hiperatividade e impulsividade, que podem trazer desafios significativos para a vida da pessoa.

Embora a genética tenha um papel importante no Déficit de Atenção e Hiperatividade, sabemos que não é o único fator envolvido. O ambiente em que a criança cresce e se desenvolve, incluindo o que acontece antes, durante e logo após o nascimento, também pode influenciar o risco de desenvolver o transtorno.
Um estudo científico recente, publicado na revista “Preventive Science“, analisou cuidadosamente uma grande quantidade de pesquisas já realizadas sobre o assunto. O objetivo era entender melhor como esses fatores que acontecem no início da vida, os chamados fatores perinatais, podem estar relacionados ao TDAH.
O Estudo: Uma Análise Profunda dos Primeiros Anos de Vida
Para investigar a relação entre os fatores perinatais e o Transtorno, os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática e meta-análise. Isso significa que eles reuniram e analisaram os resultados de muitos estudos diferentes que já haviam sido feitos sobre o tema.
Eles buscaram estudos que investigaram diversos fatores, desde o que aconteceu durante a gravidez da mãe até os primeiros meses de vida do bebê. Esses fatores foram divididos em três grupos principais:
-
Fatores pré-natais: Relacionados à saúde e ao estilo de vida da mãe durante a gravidez (ex: peso antes da gravidez, pressão alta, complicações na gravidez, exposição a substâncias tóxicas).
-
Fatores perinatais: Relacionados ao momento do nascimento (ex: tipo de parto, complicações durante o parto, Apgar baixo).
-
Fatores pós-natais: Relacionados aos primeiros meses de vida do bebê (ex: doenças do recém-nascido, amamentação).
O Que os Resultados Revelam? Uma Lista de Fatores Associados ao TDAH
Após analisar cuidadosamente os dados de mais de 60 estudos, os pesquisadores encontraram algumas associações importantes entre os fatores perinatais e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade:
-
Fatores pré-natais:
-
Peso da mãe antes da gravidez: Mães com sobrepeso ou obesidade antes da gravidez tiveram filhos com maior risco de TDAH.
-
Pré-eclâmpsia: Essa condição, que causa pressão alta durante a gravidez, também foi associada a um maior risco de TDAH.
-
Complicações na gravidez: Várias complicações durante a gravidez, como sangramentos, diabetes gestacional e infecções, também aumentaram o risco de TDAH.
-
Exposição a testosterona: Níveis mais elevados de testosterona durante a gravidez, medidos indiretamente através da proporção entre o segundo e o quarto dedo da mão, também foram associados ao TDAH.
-
-
Fatores perinatais:
-
Asfixia perinatal: A privação de oxigênio antes, durante e depois do parto aumenta a probabilidade de desenvolvimento posterior do transtorno.
-
-
Fatores pós-natais:
-
Baixa pontuação no Apgar: O Apgar é um teste rápido que avalia a saúde do recém-nascido logo após o nascimento. Uma pontuação baixa no Apgar foi associada a um maior risco de TDAH.
-
Doenças do recém-nascido: Bebês que precisaram de cuidados intensivos logo após o nascimento ou que tiveram alguma doença nos primeiros meses de vida também apresentaram maior risco de TDAH.
-
Falta de amamentação: Crianças que não foram amamentadas, ou que foram amamentadas por pouco tempo, também tiveram um risco maior de desenvolver TDAH.
-

Infográfico sobre fatores de riscos associados ao TDAH na gravidez
É importante ressaltar que esses resultados não significam que esses fatores causem o TDAH diretamente. Eles indicam que existe uma associação entre esses fatores e o transtorno, ou seja, que eles podem aumentar a probabilidade de a criança desenvolver o TDAH.
Outro ponto importante a destacar é que a maioria dos estudos analisados não conseguiu estabelecer uma relação causal entre os fatores perinatais e o TDAH. Isso significa que, embora a associação exista, não sabemos ao certo se esses fatores são a causa direta do transtorno ou se existem outros fatores envolvidos.
Por Que Esses Fatores Podem Estar Relacionados ao TDAH?
Os pesquisadores levantam algumas hipóteses sobre como esses fatores podem estar relacionados ao TDAH:
-
Hipóxia e isquemia: A falta de oxigênio no cérebro, que pode ocorrer devido a complicações na gravidez, no parto ou logo após o nascimento, pode afetar o desenvolvimento cerebral e aumentar o risco de TDAH.
-
Inflamação: A pré-eclâmpsia, as infecções e outras complicações na gravidez podem aumentar a inflamação no corpo da mãe e do bebê, e essa inflamação pode afetar o desenvolvimento do cérebro.
-
Nutrição: A falta de nutrientes importantes, como ferro e zinco, durante a gravidez e a amamentação, pode prejudicar o desenvolvimento cerebral e aumentar o risco de TDAH.
-
Hormônios: A exposição a níveis elevados de testosterona durante a gravidez pode afetar o desenvolvimento do cérebro e aumentar o risco de TDAH, especialmente em meninos.
O Que Podemos Fazer? Prevenção e Cuidados
Embora não possamos controlar todos os fatores de risco para o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, existem algumas medidas que podem ser tomadas para reduzir a probabilidade de desenvolver o transtorno:
-
Cuidado pré-natal: É fundamental que as gestantes tenham um acompanhamento pré-natal adequado, com exames regulares e acompanhamento médico, para identificar e tratar precocemente quaisquer problemas de saúde.
-
Alimentação saudável: Uma dieta equilibrada e rica em nutrientes, tanto para a mãe quanto para o bebê, é essencial para o desenvolvimento saudável do cérebro.
-
Amamentação: A amamentação, quando possível, é uma forma de fornecer ao bebê os nutrientes e anticorpos necessários para o seu desenvolvimento, além de fortalecer o vínculo entre mãe e filho.
-
Atenção aos sinais: É importante que pais e educadores estejam atentos aos sinais de TDAH desde cedo, buscando ajuda profissional caso a criança apresente dificuldades de atenção, hiperatividade ou impulsividade.
-
Apoio e tratamento: O diagnóstico e o tratamento precoces do TDAH podem fazer uma grande diferença na vida da criança, ajudando-a a lidar com os desafios do transtorno e a desenvolver todo o seu potencial.

Mãe com seu bebe
Limitações e Próximos Passos da Pesquisa
É importante lembrar que este estudo, como qualquer pesquisa científica, tem suas limitações. Os pesquisadores analisaram estudos que utilizaram diferentes metodologias, diferentes formas de medir o TDAH e diferentes populações. Isso torna difícil comparar os resultados e tirar conclusões definitivas.
Além disso, a maioria dos estudos analisados era observacional, ou seja, eles apenas observaram a relação entre os fatores perinatais e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, sem intervir ou manipular as variáveis. Isso significa que não podemos ter certeza se esses fatores são a causa direta do transtorno ou se existem outros fatores envolvidos.
Por isso, é fundamental que mais pesquisas sejam realizadas, com metodologias mais rigorosas e com amostras maiores e mais diversificadas, para que possamos entender melhor a relação entre os fatores perinatais e o Déficit de Atenção e Hiperatividade.
A Complexidade do TDAH e a Importância da Abordagem Multidimensional
O estudo que exploramos neste post nos mostra que o TDAH é um transtorno complexo, com múltiplas influências e que o seu desenvolvimento é influenciado por uma combinação de fatores genéticos, ambientais e biológicos.
Não existe uma causa única para o Déficit de Atenção e Hiperatividade, nem uma solução mágica para o transtorno. O tratamento do TDAH deve ser individualizado e multidisciplinar, considerando as necessidades e características de cada pessoa.
É fundamental que continuemos a investir em pesquisas científicas que busquem desvendar os mistérios do TDAH e que nos ajudem a desenvolver abordagens terapêuticas cada vez mais eficazes e personalizadas. Ao mesmo tempo, é importante que pais, educadores, profissionais de saúde e a sociedade como um todo estejam atentos aos sinais do TDAH, buscando oferecer o apoio e a compreensão necessários para que as pessoas com esse transtorno possam viver vidas plenas e significativas.
Ao compreendermos melhor o TDAH, podemos construir um futuro com mais inclusão, respeito e oportunidades para todos.
Leia sobre: TDAH e as Altas Habilidades: Desvendando a Complexa Relação Entre Mente Brilhante e Desafios da Atenção
Palavras-chave: TDAH, fatores perinatais, pré-natal, perinatal, pós-natal, gravidez, parto, recém-nascido, amamentação, prematuridade, baixo peso, asfixia, preeclâmpsia, testosterona, saúde mental, neurodesenvolvimento.
Referência
Acesso aberto
Autor: Rebecca H Bitsko
Fonte: Preventive Science
Pesquisa Original : Acesso aberto
“A Systematic Review and Meta-analysis of Prenatal, Birth, and Postnatal Factors Associated with Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in Children“ Rebecca H Bitsko et al. Preventive Science

Sou Jeferson Magno Amorim Manini, graduando em Psicologia e apaixonado por neurociência, pesquisa e conhecimento. Minha jornada acadêmica e profissional me levou a explorar profundamente o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), não apenas como um tema de estudo, mas como uma realidade que impacta milhões de pessoas.
Foi dessa paixão que nasceu o TDAH.World, um espaço criado para informar, apoiar e conectar pessoas com TDAH. Meu objetivo é traduzir informações complexas em conteúdos acessíveis, sem perder a profundidade científica, para que mais pessoas possam entender e lidar melhor com os desafios – e também as potencialidades – do TDAH.
Acredito que conhecimento bem aplicado pode transformar vidas, e é isso que me motiva a continuar estudando, escrevendo e compartilhando insights sobre neurociência, saúde mental e desempenho cognitivo. Se você chegou até aqui, espero que encontre neste espaço algo que faça sentido para você!