
A Camuflagem social no TDAH: Uma Estratégia de Sobrevivência ou uma Barreira para o Autoconhecimento?
Explore o conceito de camuflagem em pessoas com TDAH e autismo, e descubra como essa estratégia de adaptação pode ser ao mesmo tempo benéfica e prejudicial. Saiba como reconhecer os sinais de camuflagem e como buscar apoio para uma vida mais autêntica.
Camuflagem: Uma Camada a Mais na Complexidade do TDAH
Quando falamos sobre TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e autismo, é comum focarmos nos sintomas mais evidentes, como a dificuldade de atenção, a impulsividade, a hiperatividade ou as dificuldades de comunicação e interação social. No entanto, existe uma camada mais profunda, que muitas vezes passa despercebida: a camuflagem.
Camuflar significa usar estratégias, conscientes ou inconscientes, para esconder ou disfarçar suas características, buscando se encaixar nas expectativas da sociedade e parecer “normal”. Essa prática, que já foi amplamente estudada no contexto do autismo, tem despertado o interesse de pesquisadores em relação ao Transtorno, e tem sido identificada como uma estratégia comum para pessoas com esse transtorno.
Um estudo científico recente, publicado na revista “Autism Research“, investigou como o camuflar se manifesta em adultos com TDAH, autismo ou sem nenhum transtorno. Os resultados desse estudo nos ajudam a entender melhor essa complexa relação e a refletir sobre como ela pode impactar a vida das pessoas com TDAH.

Foto de Mikhail Nilov
O Estudo: Explorando a Camuflagem em Diferentes Grupos
O estudo analisou um grupo de adultos com Transtorno, um grupo de adultos com autismo e um grupo de controle (sem TDAH e sem autismo). Os pesquisadores utilizaram questionários específicos, como o CAT-Q-NL (Questionário de Camuflagem de Traços Autistas), o ADHD-SR (Questionário de Autorrelato para TDAH) e o AQ (Questionário de Espectro Autista) para avaliar diferentes aspectos do camuflar e dos sintomas dos transtornos.
Os resultados revelaram que:
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Pessoas com autismo apresentaram níveis mais altos de camuflagem do que pessoas com TDAH e pessoas sem nenhum transtorno. 
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Pessoas com TDAH relataram mais comportamentos de camuflagem do que pessoas sem nenhum transtorno, embora em níveis menores do que as pessoas com autismo. 
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Autismo, mas não os sintomas de TDAH, preveem os níveis de camuflagem, o que indica que o camuflar pode estar mais relacionado a traços autistas do que a traços de TDAH. 
A Camuflagem no TDAH: O Que Isso Significa?
Embora o camuflar tenha sido inicialmente estudado no autismo, o estudo revelou que essa estratégia também é utilizada por pessoas com Déficit de Atenção e Hiperatividade, embora em menor intensidade. Mas o que isso significa na prática?
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Busca por aceitação: Pessoas com TDAH podem usar estratégias de camuflagem para se encaixar em ambientes sociais, acadêmicos e profissionais, buscando evitar o estigma e a discriminação associados ao transtorno. 
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Proteção contra julgamento: A camuflagem pode ser uma forma de se proteger contra olhares curiosos ou preconceituosos, evitando que outras pessoas percebam seus desafios com a atenção, a impulsividade e a hiperatividade. 
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Sobrecarga: A camuflagem pode ser uma experiência desgastante, exigindo um grande esforço mental e emocional, o que pode levar ao esgotamento e a outros problemas de saúde mental. 
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Dificuldade para o autoconhecimento: Ao se esforçar para esconder seus traços, a pessoa com TDAH pode ter dificuldade em se conhecer e se aceitar como é, dificultando o processo de autodescoberta e de desenvolvimento pessoal. 
A Camuflagem: Uma Barreira para o Diagnóstico e para o Tratamento?
O estudo também levanta a hipótese de que a camuflagem pode dificultar o diagnóstico do Déficit de Atenção e Hiperatividade em adultos, especialmente em mulheres e em pessoas com alto QI. Ao se esforçarem para esconder suas características, elas podem passar despercebidas pelos profissionais de saúde, que não reconhecem os sinais sutis do transtorno.
Além disso, a camuflagem pode dificultar o tratamento, pois, ao tentarem se apresentar de forma “normal”, as pessoas com Déficit de Atenção e Hiperatividade podem ter dificuldade em expressar suas necessidades e em se beneficiar das abordagens terapêuticas disponíveis.
Uma Chamada para a Autenticidade: Desvendando e Validando a Sua Essência
Diante da complexidade do camuflar, é fundamental que as pessoas com TDAH busquem o autoconhecimento e se permitam ser autênticas. Algumas estratégias podem ajudar nesse processo:
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Auto-observação: Preste atenção em como você se comporta em diferentes situações, quais são as suas reações e os seus sentimentos, identificando os momentos em que você usa estratégias de camuflagem. 
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Aceitação: Aceite suas características como parte de sua identidade, sem tentar se encaixar em padrões ou rótulos. 
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Comunicação: Compartilhe suas dificuldades com pessoas de confiança, pedindo apoio e compreensão. 
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Busca por tratamento: Procure um profissional de saúde qualificado para te ajudar a lidar com o TDAH e a desenvolver estratégias para viver de forma mais autêntica e plena. 
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Autocompaixão: Permita-se errar, cair e levantar, reconhecendo que o caminho do autoconhecimento e da aceitação é uma jornada contínua. 

Imagem de Robin Higgins por Pixabay
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Rompendo as Máscaras e Construindo uma Vida Autêntica
A camuflagem é uma estratégia de adaptação que pode ser útil em algumas situações, mas que também pode ter um impacto negativo na saúde mental e emocional de pessoas com Déficit de Atenção e Hiperatividade.
É preciso que as pessoas com Déficit de Atenção e Hiperatividade tenham acesso a informações claras e objetivas sobre o transtorno e sobre como lidar com a camuflagem. É preciso que os profissionais de saúde estejam atentos aos sinais de camuflagem e que ofereçam um tratamento que promova a autenticidade, o autoconhecimento e a aceitação.
Lembre-se: você não está sozinho nessa jornada. Ao se permitir ser autêntico, você poderá construir uma vida mais plena, significativa e feliz, sem precisar se esconder atrás de máscaras.
Informações sobre a pesquisa
Autor: W. J. van der Putten
Fonte: Autism Research
Contato: W. J. van der Putten
Pesquisa Original : Acesso aberto
“Is camouflaging unique for autism? A comparison of camouflagingbetween adults with autism and ADHD“ W. J. van der Putten et al. Autism Research

Sou Jeferson Magno Amorim Manini, graduando em Psicologia e apaixonado por neurociência, pesquisa e conhecimento. Minha jornada acadêmica e profissional me levou a explorar profundamente o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), não apenas como um tema de estudo, mas como uma realidade que impacta milhões de pessoas.
Foi dessa paixão que nasceu o TDAH.World, um espaço criado para informar, apoiar e conectar pessoas com TDAH. Meu objetivo é traduzir informações complexas em conteúdos acessíveis, sem perder a profundidade científica, para que mais pessoas possam entender e lidar melhor com os desafios – e também as potencialidades – do TDAH.
Acredito que conhecimento bem aplicado pode transformar vidas, e é isso que me motiva a continuar estudando, escrevendo e compartilhando insights sobre neurociência, saúde mental e desempenho cognitivo. Se você chegou até aqui, espero que encontre neste espaço algo que faça sentido para você!