
Jogos e Apps para “Treinar o Cérebro” no TDAH: Funcionam Mesmo? O Que Diz a Ciência
Treinamento cognitivo por computador (jogos, apps) promete melhorar o TDAH. Mas será que funciona? Veja o que as pesquisas mais sérias dizem sobre a real eficácia.
O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) traz desafios em áreas como atenção, controle de impulsos e memória de curto prazo (a chamada memória de trabalho). [4, 23] Como essas dificuldades estão ligadas ao funcionamento do cérebro, surgiu uma ideia que parece muito atraente: será que podemos “treinar” o cérebro usando jogos e programas de computador para melhorar essas habilidades e, consequentemente, os sintomas do TDAH? [5, 36]
Essa abordagem é conhecida como Treinamento Cognitivo Informatizado (CCT). [5] A ideia é usar atividades em formato digital, muitas vezes adaptativas (ficam mais difíceis conforme a pessoa melhora), para exercitar funções como atenção, memória, raciocínio ou controle inibitório. [35, 37] Com resultados iniciais que pareciam promissores e o apelo da tecnologia, vários desses programas e até videogames foram desenvolvidos e comercializados especificamente para TDAH, alguns até com aprovação de órgãos reguladores em certos países. [13, 38, 39]
Mas, como em qualquer tratamento, precisamos perguntar: além da promessa e do marketing, o que a evidência científica mais confiável diz sobre a real eficácia desses treinamentos para TDAH? Um artigo recente resumiu o que os estudos mais rigorosos mostram até agora. [6, 14]
O Que as Pesquisas Mais Sérias Mostram?
Quando os cientistas juntam e analisam os resultados dos melhores estudos disponíveis (ensaios clínicos randomizados e controlados, que são o padrão-ouro para testar tratamentos), o cenário sobre o CCT para TDAH fica mais claro, e talvez um pouco menos animador do que se esperava:
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Efeito nos Sintomas Principais (Desatenção, Hiperatividade): Limitado e Modesto.
- A conclusão principal das revisões mais rigorosas (como as do Grupo Europeu de Diretrizes para TDAH – EAGG) [41] é que o CCT, na forma como existe hoje, tem um efeito muito pequeno (modesto) na redução dos sintomas principais do TDAH, especialmente quando avaliado por pessoas “cegas” (que não sabem se a criança recebeu o treino ou um placebo/atividade controle). [7, 16, 47, 50, 51]
- Para hiperatividade/impulsividade, geralmente não se vê melhora significativa. [47]
- Para desatenção, pode haver uma pequena melhora, mas o tamanho do efeito é considerado baixo. [48, 50]
- Importante: Essa melhora nos sintomas é bem menor do que a observada com os tratamentos de primeira linha, como os medicamentos estimulantes. [52]
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Melhora na Habilidade Treinada: Sim, Mas…
- Os treinos cognitivos geralmente conseguem, sim, melhorar o desempenho da pessoa naquela tarefa específica que está sendo treinada no computador. [52] Por exemplo, se o jogo treina memória de trabalho, a pessoa tende a ficar melhor naquele jogo de memória de trabalho. [52, 53]
- Da mesma forma, alguns treinos focados em controle inibitório (o “freio” do cérebro) mostraram melhora naquela tarefa específica de inibição feita no computador. [54]
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Transferência para a Vida Real: O Grande Ponto Fraco.
- Aqui está o maior problema encontrado pela pesquisa: essa melhora obtida dentro do jogo ou programa dificilmente se transfere ou se generaliza para outras áreas da vida da pessoa. [7, 17, 56, 57]
- Melhorar no joguinho de memória não significa, necessariamente, que a criança vai lembrar melhor dos deveres de casa ou das instruções do professor. Melhorar no teste de “freio” do computador não garante que ela será menos impulsiva na hora do recreio. [56, 57]
- A pesquisa também não encontrou evidências fortes de que o CCT melhore habilidades acadêmicas importantes como leitura ou matemática. [58]
- Essa falta de generalização para o mundo real é a principal limitação do CCT como tratamento para TDAH hoje. [57, 76]
Por Que o “Treino de Cérebro” Sozinho Parece Não Ser Suficiente para o TDAH?
O TDAH é uma condição complexa e heterogênea. [64] Afeta múltiplas funções, de formas diferentes em cada pessoa, e muitas vezes vem junto com outras dificuldades (transtornos de aprendizagem, ansiedade, problemas de comportamento, etc.). [65]
A ideia de que um único tipo de treino, focado em uma habilidade específica (como memória de trabalho), vá resolver um problema tão multifacetado parece ser simplista demais. [8, 18, 64] É como tentar consertar um carro complexo mexendo apenas em uma única peça isolada.
Além disso, o CCT geralmente não aborda outros aspectos cruciais para o manejo do TDAH, como:
- Fatores emocionais e motivacionais. [68]
- Habilidades de organização, planejamento e gerenciamento do tempo aplicadas ao dia a dia. [61, 68]
- Estratégias para lidar com as demandas do ambiente (escola, casa). [68]
- Envolvimento da família e da escola no processo. [68]
- Ensino de habilidades compensatórias (como usar agendas, lembretes, dividir tarefas). [68]
O Futuro do Treinamento Cognitivo: Parte de um Pacote Maior?
Diante dessas evidências, a conclusão dos especialistas é clara: o Treinamento Cognitivo Informatizado (CCT), por si só, NÃO tem apoio científico suficiente hoje para ser considerado um tratamento de primeira linha, nem uma alternativa, para o TDAH. [6, 14, 16, 59, 75] Ele não deve substituir as intervenções que comprovadamente funcionam melhor para os sintomas principais e para a vida real, como medicamentos (quando indicados) e terapias comportamentais/psicológicas (como treinamento parental e TCC). [60]
Mas isso significa que ele é inútil? Talvez não completamente. O futuro do CCT no TDAH pode estar em:
- Ser Parte de Algo Maior: Em vez de ser usado isoladamente, o CCT poderia ser integrado a programas de intervenção neuropsicológica mais amplos e completos, que trabalhem não só a habilidade específica, mas também a transferência para a vida real, estratégias compensatórias, aspectos emocionais e o contexto da pessoa. [9, 19, 69, 70, 78] Mas ainda faltam estudos que comprovem o benefício adicional do CCT dentro desses pacotes mais completos. [9, 70]
- Programas Específicos: É preciso avaliar cada programa ou jogo CCT individualmente, pois eles são muito diferentes entre si. Alguns podem ter mais base teórica ou mostrar resultados melhores que outros no futuro. [71, 72, 73]
- Públicos Específicos: Talvez o CCT possa ser mais útil para certos perfis de TDAH ou em idades específicas (como pré-escolares, se combinado com intervenções baseadas em brincadeiras). [74]
Conclusão: Cautela com Promessas e Foco na Evidência
A ideia de “treinar o cérebro” com jogos e aplicativos é muito sedutora para famílias que buscam ajuda para o TDAH. No entanto, é fundamental ter cautela com promessas exageradas. A ciência mais rigorosa, até o momento, mostra que os benefícios do Treinamento Cognitivo Informatizado (CCT) para os sintomas principais do TDAH e para a vida real são limitados quando ele é usado como única intervenção.
Ele não substitui os tratamentos de primeira linha (medicamentos e terapias comportamentais/psicológicas). Talvez, no futuro, ele encontre seu lugar como uma ferramenta complementar dentro de abordagens mais abrangentes, mas ainda precisamos de mais pesquisas para saber.
Ao considerar opções de tratamento para TDAH, converse sempre com profissionais qualificados e busque informações baseadas nas evidências científicas mais sólidas disponíveis.
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Referências
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Pesquisa Original : Acesso aberto
“ADHD, stress, and anxiety” Petr Bob, Michal Privara et. al Afiliados
TDAH: O Que Aprendemos em 20 Anos…

Sou Jeferson Magno Amorim Manini, graduando em Psicologia e apaixonado por neurociência, pesquisa e conhecimento. Minha jornada acadêmica e profissional me levou a explorar profundamente o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), não apenas como um tema de estudo, mas como uma realidade que impacta milhões de pessoas.
Foi dessa paixão que nasceu o TDAH.World, um espaço criado para informar, apoiar e conectar pessoas com TDAH. Meu objetivo é traduzir informações complexas em conteúdos acessíveis, sem perder a profundidade científica, para que mais pessoas possam entender e lidar melhor com os desafios – e também as potencialidades – do TDAH.
Acredito que conhecimento bem aplicado pode transformar vidas, e é isso que me motiva a continuar estudando, escrevendo e compartilhando insights sobre neurociência, saúde mental e desempenho cognitivo. Se você chegou até aqui, espero que encontre neste espaço algo que faça sentido para você!