
TDAH na Maternidade: Entre Sintomas e Sussurros
Mulheres com TDAH que engravidam ou amamentam precisam parar a medicação? Entenda a falta de informação e a necessidade de mais pesquisas sobre o tema.
O TDAH acompanha muitas pessoas vida afora, não só na infância. E para as mulheres, isso inclui um período muito especial: a gravidez e a amamentação. Surge então uma dúvida muito importante e delicada: “Posso continuar tomando meu remédio para TDAH durante a gestação ou enquanto amamento? Isso é seguro para o bebê?”
É uma questão que gera muita angústia e incerteza, tanto para as mães quanto para os médicos. Parar o tratamento pode trazer de volta os sintomas do TDAH com força total, o que pode ser muito difícil de lidar junto com as mudanças da gravidez e os desafios do pós-parto (piorando a saúde mental, dificuldades práticas, etc.). Por outro lado, existe a preocupação natural sobre o medicamento passar para o bebê, seja pela placenta ou pelo leite materno.
O que a ciência sabe sobre isso? Uma revisão recente de pesquisas focou em como os cientistas medem a quantidade desses medicamentos (como metilfenidato, anfetaminas, atomoxetina, etc.) no corpo da mãe e, principalmente, no leite materno. Entender como medir é o primeiro passo para saber quanto do remédio pode chegar ao bebê e se essa quantidade oferece algum risco.
A Grande Dificuldade: Faltam Dados e Métodos!
A principal conclusão dessa revisão científica é um pouco frustrante, mas importante de saber: ainda falta muita informação confiável sobre a passagem dos remédios de TDAH para o leite materno e sobre os efeitos disso no bebê.
Por quê?
- Poucos Estudos: Especialmente durante a amamentação, existem poucos estudos que mediram a concentração dos medicamentos no leite e no sangue do bebê.
- Foco em Outras Áreas: Muitas pesquisas que desenvolvem métodos para medir esses remédios no corpo focam em outras situações (como controle de doping ou abuso de drogas), e não especificamente na dosagem usada para tratamento de TDAH em mães.
- Dificuldade em Medir: Medir quantidades pequenas de medicamentos em amostras biológicas como sangue ou leite materno exige métodos de laboratório muito específicos e sensíveis (o artigo fala muito sobre “cromatografia líquida”, que é uma dessas técnicas avançadas). A revisão mostrou que ainda faltam métodos padronizados e validados especificamente para analisar vários remédios de TDAH ao mesmo tempo no leite materno.
O Pouco Que se Sabe (Com Muita Cautela):
A revisão juntou os poucos dados disponíveis na literatura (apresentados na Tabela 1 do artigo original) sobre a passagem de alguns medicamentos para o leite materno:
- Metilfenidato (MPH – ex: Ritalina®, Concerta®): Os poucos casos estudados sugerem que o metilfenidato passa para o leite materno, mas geralmente em quantidades consideradas pequenas. A “dose relativa” para o bebê (RID – quanto o bebê recebe em relação à dose da mãe ajustada pelo peso) parece ficar abaixo de 1% em alguns relatos, o que muitos especialistas consideram um nível baixo. No entanto, são pouquíssimos dados.
- Anfetaminas (AMP/dAMP/LDX – ex: Venvanse®): Também parece passar para o leite. Em alguns estudos com poucas mulheres, a dose relativa para o bebê (RID) ficou entre 5% e 9.5%, um valor um pouco mais alto que o do metilfenidato, mas ainda considerado por alguns como possivelmente aceitável. Novamente, são dados muito limitados.
- Atomoxetina (ATX – ex: Strattera®): Quase não há informação. Um método para medir no leite foi desenvolvido, mas faltam estudos clínicos. Há relatos antigos de bebês que ficaram mais sonolentos, mas sem detalhes.
- Outros (Bupropiona, Clonidina, Guanfacina, Viloxazina): Para a bupropiona (usada às vezes off-label), os dados também são escassos, com relatos de passagem para o leite e um caso raro de convulsão no bebê (mas a relação causal é incerta). Para clonidina, usada às vezes para TDAH ou pressão alta, também há relatos de passagem para o leite e casos de sonolência/problemas no bebê. Para guanfacina e viloxazina, a revisão não encontrou dados sobre a passagem para o leite materno.
O Que Fazer Diante da Incerteza?

Child boy hugging the belly of pregnant her mother on the couch at home.
A falta de dados claros torna a decisão sobre usar medicação para TDAH durante a gravidez e amamentação muito individual. A revisão reforça a necessidade de:
- Conversa Aberta com o Médico: É fundamental discutir a situação com os médicos (obstetra, psiquiatra/neurologista, pediatra). Eles podem ajudar a pesar os riscos de não tratar o TDAH da mãe (que são reais e podem afetar a gravidez e o pós-parto) contra os riscos potenciais e ainda pouco conhecidos da medicação para o bebê.
- Decisão Compartilhada: A decisão final deve ser tomada em conjunto pela mulher e sua equipe médica, considerando a gravidade dos sintomas do TDAH, a dose da medicação, a saúde do bebê, o desejo de amamentar e as informações (mesmo que limitadas) disponíveis para cada medicamento.
- Monitoramento: Se a decisão for manter ou iniciar a medicação durante a amamentação, é importante monitorar o bebê de perto para qualquer sinal incomum (irritabilidade, sonolência excessiva, problemas de alimentação) e informar o pediatra imediatamente.
- Mais Pesquisa Urgente: A principal mensagem do artigo é um chamado para a comunidade científica: precisamos urgentemente de mais pesquisas! São necessários mais estudos para:
- Desenvolver métodos confiáveis para medir todos os remédios de TDAH no leite materno e no sangue dos bebês.
- Entender melhor quanto de cada remédio realmente passa para o leite e chega ao bebê.
- Avaliar os efeitos (se houver) dessas pequenas quantidades no desenvolvimento infantil a curto e longo prazo.
- Criar diretrizes clínicas claras e baseadas em evidências para ajudar médicos e mães nessa decisão tão importante.
Conclusão: Navegando na Incerteza com Informação e Apoio
Para mulheres com TDAH que estão grávidas, planejam engravidar ou estão amamentando, a questão da medicação é complexa e pessoal. A ciência ainda não tem todas as respostas sobre a segurança e a passagem dos remédios para o leite materno.
O mais importante é não tomar decisões sozinha baseadas no medo ou na falta de informação. Busque apoio médico qualificado, converse abertamente sobre suas preocupações e necessidades, e tome uma decisão informada em conjunto com seus médicos, pesando os riscos e benefícios para você e seu bebê. E vamos torcer para que a ciência avance rapidamente e traga mais respostas seguras para todas as mães com TDAH!
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Referências
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Autor: Lena De Hondt
Fonte: Frontiers
Pesquisa Original : Acesso aberto
“Quantification of ADHD medication in biological fluids of pregnant and breastfeeding women with liquid chromatography: a comprehensive review” Lena De Hondt et. al Frontiers
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Sou Jeferson Magno Amorim Manini, graduando em Psicologia e apaixonado por neurociência, pesquisa e conhecimento. Minha jornada acadêmica e profissional me levou a explorar profundamente o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), não apenas como um tema de estudo, mas como uma realidade que impacta milhões de pessoas.
Foi dessa paixão que nasceu o TDAH.World, um espaço criado para informar, apoiar e conectar pessoas com TDAH. Meu objetivo é traduzir informações complexas em conteúdos acessíveis, sem perder a profundidade científica, para que mais pessoas possam entender e lidar melhor com os desafios – e também as potencialidades – do TDAH.
Acredito que conhecimento bem aplicado pode transformar vidas, e é isso que me motiva a continuar estudando, escrevendo e compartilhando insights sobre neurociência, saúde mental e desempenho cognitivo. Se você chegou até aqui, espero que encontre neste espaço algo que faça sentido para você!